Depois de tentar vender a área e retroceder diante da reação negativa da cidade, o governo do Estado decidiu preservar a Fazenda Serra d’Água, na região do Parque Jambeiro, e transformá-la em floresta. No próximo dia 10 ocorrerá em Campinas a audiência pública para discutir a proposta de criação da Floresta Estadual Serra D’Água. A previsão é que até o final do ano seja assinado decreto para tornar aquela área uma unidade de conservação, ou seja, especialmente protegida por lei. A decisão deverá garantir a preservação desse remanescente, com características de floresta urbana, fortemente pressionada pela expansão e especulação imobiliária. A futura floresta irá se constituir também em um centro difusor de práticas florestais sustentáveis para toda a região de Campinas.
A Serra d’Água será a terceira floresta do Estado — as outras são a Floresta Nacional de Capão Bonito e a Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó. Conforme a definição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), uma floresta é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. Enquanto os parques podem receber atividades de recreação e de turismo ecológico, as florestas têm uso mais restrito.
A proposta de transformação da fazenda em uma unidade de conservação foi elaborada pelo Instituto Florestal, organismo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Segundo a iniciativa, a Serra d’Água, protegida como unidade de conservação da natureza, representará a possibilidade de maior contribuição para a conservação da biodiversidade. O projeto prevê a necessidade de R$ 468 mil para proteger a área com a implantação de aceiro, sinalização, alambrado, duas base de fiscalização, contratação de vigilância, limpeza e elaboração do plano de manejo.
O Instituto Florestal orienta que o plano de manejo deverá prever ações de restauração e enriquecimento das áreas de preservação junto com pesquisas voltadas ao manejo de espécies e produtos florestais nativos nas demais áreas, em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
“A criação da floresta é uma vitória da sociedade”, disse o promotor de Meio Ambiente José Roberto Carvalho Albejante. O promotor foi o primeiro a alertar sobre a disposição do governo em vender a fazenda e a iniciar gestões para tentar barrar a ideia. Segundo ele, aquela área tem profundo significado socioambiental para a população de Campinas, por estar em sua maior porcentagem coberta por vegetação florestal em estágio de regeneração. Albejante obteve informações que a intenção do governador Alberto Goldman (PSDB) é assinar o decreto criando a unidade de conservação Floresta Estadual Serra d’Água ainda este ano.
O estudo para caracterizar a futura floresta informa que ela é área drenada pelo Córrego São Vicente que, por sua vez, deságua no Rio Capivari. Do ponto de vista de proteção aos recursos hídricos, e considerando a ausência de cobertura florestal da bacia hidrográfica do Rio Capivari, a preservação e recuperação da vegetação da fazenda e do seu entorno desempenhará um papel relevante para a região, por favorecer a infiltração da água, diminuindo os processos erosivos, o escoamento superficial e, consequentemente, contribuindo para a melhoria da qualidade das águas.
Características
A área, com matas, córregos e cachoeiras, é recoberta por espécies vegetais exóticas em 62,6% do território. Existem duas formações distintas, com domínio de exóticas. A área de maior extensão, 21,12 hectares, tem predomínio de tipuana, espécie arbórea nativa da Bolívia e Argentina, muito utilizada em arborização urbana. A outra é recoberta por gramíneas exóticas como o bambuzinho-de-jardim, originada da Ásia, capim-elefante brachiaria, recobrindo 10,83 hectares, que correspondem a 21,22 % da propriedade. As áreas com floresta estacional semidecidual podem ser divididas em capoeirão, capoeira e capoeira rala, conforme o maior espaçamento. Há espécies de macaúba, úba-do-brejo, araribá, candeia, mamica-de-porca, aroeira-brava, rosa. Há várias espécies de aves, entre elas a juriti-vermelha considera em perigo de extinção e o pica-pau-de-topete-vermelho, tido como vulnerável na lista vermelha paulista da fauna ameaçada de extinção.
Conservação deve gerar mais repasses
A implantação de uma floresta dentro de Campinas aumenta as possibilidade de o município receber recursos de compensações ambientais. Campinas tem apenas duas unidades de conservação, a Mata de Santa Genebra e a Área de Proteção Ambiental (APA) de Sousas e Joaquim Egídio. As duas, porém, são de uso sustentável, o que dificulta a captação de verbas compensatórias porque a legislação define que os recursos sejam para a categoria de proteção integral. Sem unidades de conservação de uso integral, Campinas vai perder, por exemplo, verbas compensatórias da ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos, que vão para áreas verdes de outras cidades.